Capítulo II – Origem da ALN
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Antigo militante do PCB e membro do Comitê Central, eleito sucessivamente, nos Congressos de 1954 e 1960, Carlos Marighela constituía-se num dos maiores líderes da Corrente Revolucionária, que tentava radicalizar a linha política do PCB. Sua maior influência era em São Paulo e seus correligionários diziam pertencer à “ Ala Marighela”.
Em 10 de dezembro de 1966, Marighela já havia enviado uma carta à Executiva do PCB, na qual renunciava à Comissão Executiva e declarava-se a favor de uma postura revolucionária
Convidado em caráter especial e sem pedir autorização ao Comitê Central do PCB, Marighela compareceu à I Conferência da OLAS – Organização Latino- Americana de Solidariedade, realizada em Havana em julho/agosto de 1967.Tomando Ciência de sua viagem, o PCB enviou nota ao PC de Cuba, afirmando que Marighela não estava autorizado a comparecer. Imediatamente, ainda de Havana , Marighela enviou uma carta à Comissão Executiva do PCB na qual afirmava:
“É evidente que compareci sem pedir permissão ao Comitê Central primeiro porque não tenho que pedir licença para praticar atos revolucionários, segundo porque não reconheço nenhuma autoridade revolucionária, neste Comitê Central, para determinar o que devo, ou não, fazer.”
“(… ) prosseguirei pelo caminho da luta armada, reafirmando minha atitude revolucionária (…) “
Ao retornar ao Brasil, impregnado das concepções foquistas ( teoria cubana de pequenos grupos de guerrilheiros agindo em várias partes e com certa independência) e contando com os dólares cubanos, Marighela denominou o seu grupo, a “Ala Marighela”, de Agrupamento Comunista de São Paulo – AC/SP, que iria dar origem a Ação Libertadora Nacional – ALN
Em setembro de 1967, Marighela enviou a primeira turma de militantes para fazer curso de guerrilha em Cuba, o chamado, posteriormente, I Exército da ALN.
Componentes do I Exército da ALN:
José Nonato Mendes*, Adilson Ferreira da Silva, Aton Fon Filho, Epitácio Remígio de Araújo, Hans Rudolf Jacob Menz, Otávio Ângelo e Vírgilio Gomes da Silva.
A escolha do “Partidão” ( PCB), de tomada do poder pela linha pacífica, tornou o AC/SP um pólo de atração para os grupos dissidentes que tinham feito opção da tomada do poder pela luta armada . A organização ganhou adeptos entre os dissidentes do PCB e de grupos de jovens marxistas oriundos do meio estudantil.
Em fevereiro de 1968, Marighela expunha suas diretrizes no documento “Pronunciamento do Agrupamento Comunista de São Paulo “
A guerrilha, segundo o documento seria o “embrião do Exército revolucionário”
O trabalho inicial seria nas cidades mas, o movimento para se tornar vitorioso teria de se estender ao campo para criar o apoio do núcleo armado operário e camponês.
Três seriam os princípios básicos adotados pelos revolucionários :
a- O dever de todo revolucionário é fazer a revolução;
b- Não se pede licença para praticar atos revolucionários; e
c- A organização só tem compromisso com a revolução.
Esta seria a semente de uma das organizações mais violentas que atuariam no Brasil nas décadas de 60 e 70.
Em março de 1968, seguindo suas próprias diretrizes, Marighela chefiou o assalto ao carro pagador do Banco Francês e Italiano, na avenida Santo Amaro, em São Paulo.
A partir de julho de 1968 os militantes ( I Exército da ALN) retornavam de Cuba, depois de fazer o curso de guerrilha e iniciavam , já treinados militarmente, suas ações criminosas. Marighela investia em sua organização. À mesma época , iniciava-se o envio de mais um grupo ( II Exército da ALN), que reunido em Cuba, realizaria o treinamento militar entre março e setembro de 1969.
Faziam parte do II Exército da ALN :
Agostinho Fiordelísio, Alex de Paula Xavier Pereira, Antonio Carlos Bicalho Lana, ,Antônio Espiridião Neto, Benjamin de Oliveira Torres Neto, Darcy Toshiko Miaki, Guilherme Otávio Lessin Rodrigues, Isis Dias de Oliveira, José Júlio de Araújo, José Luiz Paz Fernandes, José da Silva Tavares, Luiz Almeida de Araújo, Luiz José da Cunha, Márcio Leite Toledo, Maria Amélia de Araújo Silva, Norberto Nhering , Paulo de Tarso Celestino, Renato Leonardo Martinelli, Ricardo Apgaua Paulo Guilherme, Sérgio Ribeiro Granja, Viriato Xavier de Melo Filho, Waldemar Rodrigues de Menezes, Washington Adalberto Mastrocinque Martins, Yuri Xavier Pereira e Zelik Traj Ber.
AÇÔES DA ALN EM 1968
Já em 1968, apoiado pela chegada do primeiro grupo vindo de Cuba, Marighela liderou alguns assaltos, todos na área de São Paulo.
São da autoria do Agrupamento Comunista de São Paulo -AC/SP As seguintes ações:
– Assalto ao Banco Comércio e Indústria, Av. São Gabriel, 191:
– Assalto à Agência Bradesco da Alameda Barros com avenida Angélica;
– Assalto ao trem pagador da Estrada de Ferro Santos – Jundiaí;
– Assalto ao carro pagador da Massey Ferguson, Alto de Pinheiros ;
– Assalto à casa de um colecionador de armas, Alameda Ribeirão Preto;
– Atentado contra um carro pertencente a um elemento do Dops de São Paulo, Avenida Marginal;
– Atentado a bomba contra a casa de um diretor da Contel.
– Assalto `a Indústria Rochester de Armas e Explosivos, em Mogi das Cruzes.
Esta última ação foi a mais audaciosa desse período, onde cerca de trinta militantes , em treze carros, levaram 23 caixas de dinamite, 21 bananas de gelatina explosiva e 4 sacos de clorato de potássio.
– Em 12 de outubro de 1968, prosseguindo a escalada de violência , foi assassinado em São Paulo, o Capitão do Exército dos Estados Unidos Charles Rodney Chandler, por Marco Antônio Brás de Carvalho ( Marquito) , homem de confiança de Marighela, juntamente com outros elementos da VPR .
As ações do AC/SP, em 1968, limitaram-se a São Paulo e renderam mais de 530mil cruzeiros novos, além de terem acrescentado armas e explosivos ao arsenal da organização.
Participaram dessas ações os seguintes militantes:
Aton Fon Filho, Manoel Cyrilo de Oliveira, Denison Luiz de Oliveira, Josef Alprim Filho ,Miguel Nakamura, Francisco Gomes da Silva, Ayrton Medeiros Caldeville, Maria Aparecida da Costa, João Leonardo da Silva Rocha, Takao Amano, Ney da Costa Falcão, Vinicius Medeiros Caldeville, Carlos Henrique Knapp, Eliane Toscano Samikhowski, Boanerges de Souza Massa, Itobi Alves de Correia Júnior, Caio Venâncio Martins, Ana de Cerqueira Cesar Corbisier Mateus, Carlos Marighela, Marco Antônio Brás de Carvalho, Arno Press, Virgílio Gomes da Silva, Sérgio Roberto Correia, João Carlos Cavalcanti Reis, Aylton Adalberto Mortati, Celso Antunes Horta, Carlos Eduardo Pires Fleury e Lauriberto José Reyes.
Lucas Figueiredo, como pode um homem com a experiência de José Nonato Mendes*, escolhido para fazer curso em Cuba, contratar um caseiro desconhecido, do qual não sabia nem o estado de origem, para tomar conta de um sítio onde os militantes de organizações, como a ALN e a VPR, íam treinar tiro, explodir bombas e esconder armas?